quinta-feira, 19 de setembro de 2013

Ganho pouco

DIÁRIO DE UM CANDIDATO IMAGINÁRIO (*)
 
Não sou uma pessoa muito simpática. Por natureza, sou até pouco sociável, um autêntico bicho do mato. Mas ninguém diria, pois sou um mestre na arte de disfarçar os meus sentimentos. Em público mostro-me sempre bem-disposto, aperto as mãos com convicção e um sorriso nos lábios aos homens que se me apresentam pela frente e distribuo beijos sem fim às senhoras. 
Também não sou um homem de fé, mas estou sempre batido nas missas, nas procissões e, nesta altura do campeonato, até nos funerais. 
Não percebo nada de economia, mas quem me ouve falar durante dois minutos fica, imediatamente, convencido da minha competência na matéria e que tenho as soluções mágicas para resolver a grave situação financeira da Câmara e, quiçá, do próprio país.
Modéstia à parte, sou um excepcional actor. Por isso é que me revolto sempre que ouço tiradas populistas do género dos políticos ganharem demasiado. Admito que isso seja verdade em relação a alguns colegas, mas, no que me diz respeito, acho que recebo infinitamente menos do que mereço. E é fácil fazer as contas. Comparados comigo, o Robert de Niro e a Julia Roberts são actores fraquinhos ou, vá lá, de talento mediano. E se exigem uns cinco ou seis milhões de dólares por cada filme que protagonizam, eu deveria ganhar, pelo menos, aí uns 10 milhões por cada campanha eleitoral que faço.

 *Este é um texto de ficção. Qualquer eventual semelhança com personagens e eventos reais é mera coincidência.

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