quarta-feira, 11 de junho de 2014

Faz falta um curso superior sobre como tratar com funcionários municipais

As universidades têm tantos cursos que não valem a ponta de um corno e nenhuma se lembrou de ministrar uma licenciatura sobre como liderar técnicos camarários. É desesperante conseguir que eles façam o que eu quero. Atenção, não estou a dizer que não trabalham, que são preguiçosos. Pelo contrário, fartam-se de trabalhar para inventar argumentos que lhes permita boicotar o meu trabalho.
Os chefes de departamento do Urbanismo e do Ambiente - que não conseguir substituir por nao ter técnicos com as competências necessárias para os seus lugares - são tipos que já lá está há séculos.  Os políticos chegam e partem e eles ficam. Aquelas são as suas quintinhas e só fazem o que querem. Andam mesmo numa de me desafiar, chumbando tudo aquilo que quero que aprovem. Para que eu perceba que posso ser o presidente da câmara, mas lá nos departamentos eles é que mandam.
É claro que não assumem isso frontalmente. Sempre que me lixam qualquer projecto apresentam-se com lágrimas de crocodilo a dizer que tentaram tudo mas que não é possível por causa de uma determinada alínea do regulamento de edificações, ou do PDM ou da REN ou do raio que os parta.
Já andava há uns meses a matutar sobre de que forma seria possível dar-lhes a volta quando, por acaso, descobri a solução. Estava a almoçar no restaurante do meu amigo Pinto quando ele me veio pedir uma ajuda. Acabei a refeição e segui-o até à cozinha onde me explicou que, por questões de ventilação e até de segurança, queria abrir ali uma enorme janela.
Em condições normais não haveria problema nenhum. O diabo é que o restaurante fica numa zona supostamente de algum interesse histórico pelo que é uma carga de trabalhos mexer numa fachada, mesmo que seja apenas para abrir uma janela que até dá para um pátio interior, como é o caso. Estava a explicar-lhe que o filho da mãe do chefe de departamento iria, de certeza, chumbar o pedido - sobretudo por saber que ele é meu amigo - quando me surgiu a solução milagrosa. Mandei-o ir buscar caneta e papel e ali mesmo lhe ditei a forma como havia de redigir o requerimento. No dia em que deu entrada nos serviços, fiz questão de ligar ao sacana do técnico a dizer que fazia muito empenho em que ele fosse aprovado. É claro que foi indeferido, com as desculpas habituais. Fiz um gesto de desapontamento quando ele me veio comunicar isso pessoalmente e, assim que saiu, liguei para o Pinto a dar-lhe a boa nova.
É que, seguindo as minhas instruções, ele tinha feito o requerimento a pedir não para abrir, mas para fechar a janela. A pretensão, como eu esperava, foi rejeitada liminarmente. Ora, como não existe qualquer janela, o Pinto agora só tem de arranjar um pedreiro ou dois e à noite ou ao fim-de-semana, discretamente, partir um bocado da parede e fazer uma janela. Que está automaticamente legalizada pois, no despacho em causa, é assumido que, sim senhor, há lá uma janela que, a bem do património histórico da terra, não pode ser destruída.
E assim resolvi o problema do Pinto e o meu. A partir de agora é desta forma que vou tratar com estes técnicos malandrecos: sempre que quero algo, proponho-lhes exactamente o contrário. E assim vamos ser todos muito felizes até ao final do mandato.

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